A existência de numerosas ocorrências de minérios de cobre, ferro e manganês na Faixa Piritosa Ibérica (FPI)foi certamente determinante no modo de vivência das populações aí residentes, tendo existido mineração desde o Calcolítico e durante a ocupação por Tartéssios, Fenícios e Cartagineses. Na época romana foram intensamente explorados vários jazigos de sulfuretos do sector português da Faixa Piritosa, como São Domingos.
Actualmente, a única exploração mineira em laboração no sector português da FPI é a de Neves Corvo, que é um projecto mineiro marcado por uma elevada tecnologia de produção de concentrados de cobre e estanho e, num futuro próximo, de zinco. A excelência do projecto mineiro tem conduzido à descoberta sistemática de novas reservas de minérios complexos. A actividade extractiva na mina de Neves Corvo salienta-se ainda pelo respeito pelas normas ambientais mais exigentes, sendo um bom exemplo de greenmining (mineração ecológica).
No entanto, a maioria das minas diagnosticadas na FPI encontra-se numa situação de total abandono. A quase totalidade das explorações mineiras abandonadas e que foram alvo de estudo não possui estruturas adequadas que minimizem o seu impacte ambiental. O vazio de responsabilidades que entretanto se formou após o encerramento de cada mina torna ainda hoje difícil a aplicação do princípio do poluidor/pagador, cabendo ao Estado a resolução do passivo ambiental herdado. À excepção da mina de Neves Corvo, todas as explorações do sector português da FPI apresentam impactes ambientais significativos, sobretudo ao nível da rede hidrográfica. A Ribeira de São Domingos, afluente do rio Chança, constitui um exemplo de um curso de água afectado pela drenagem não controlada de efluentes ácidos provenientes da área mineira de São Domingos. Os troços da rede hidrográfica situados a jusante dos centros mineiros da FPI encontram-se afectados em vários quilómetros com águas de pH ácido (<4). No caso da mina de São Domingos, a inexistência de políticas protectoras do ambiente no seu processo de encerramento traduz-se, actualmente, numa pesada herança reflectida na presença de um grande volume de escombreiras onde se identificam metais como Cu, Pb, Zn, As, Sb, Ag, Hg e Cd.
Matos e L. Martins, “Reabilitação ambiental de áreas mineiras do sector português da Faixa Piritosa Ibérica: estado da arte e perspectivas futuras”, Boletín Geológico Y Minero, 117 / 2006, pp: 289-304 (adaptado)