Depois da guerra, com a expansão da oceanografia moderna, foi decidido desenhar o mapa do campo magnético terrestre nos oceanos. Neste sentido, os oceanógrafos adquiriram o hábito de colocar os magnetómetros por detrás dos barcos — a fim de evitar os riscos de perturbações magnéticas, metálicas e eléctricas provocadas pelos próprios navios — e registar continuamente o campo magnético no decurso das respectivas travessias. Estes milhares de registos magnéticos foram marcados sobre cartas com a finalidade de se obter uma representação geográfica. Efectivamente, nestes mapas não figuram os valores do próprio campo magnético, mas sim os das suas anomalias, que, exprimem as diferenças entre campo medido e campo teórico. Esta representação tem a vantagem de permitir uma comparação das diversas regiões do Globo, sem grandes preocupações com a sua latitude, o que é particularmente útil para o estudo da deriva.
Os oceanógrafos estabeleceram, por conseguinte, mapas das anomalias magnéticas marinhas, que durante muito tempo seriam extremamente misteriosas, sem apresentarem qualquer regularidade nem possibilitarem o relacionamento entre as anomalias magnéticas registadas e outras propriedades do oceano, como a batimetria ou o afastamento das costas. No entanto, por volta de 1955, graças à acumulação de dados, começam a surgir algumas regularidades destes grafismos.
Victor Vacquier e Bill Menard, da Scripps, observam que, quando se atravessam as grandes zonas de fracturas do Pacífico Ocidental (Clipperton, Sequieros, Mendocino), desaparece a anomalia magnética de um dos lados da falha. Uma cartografia minuciosa revela que as anomalias se encontram de ambos os lados, mas desfasadas horizontalmente, tendo a equipa de Vacquier (nomeadamente Mason) posto em evidência um outro facto bastante mais curioso: é possível definir bandas de anomalias positivas (isto é, nas quais o campo é superior ao campo magnético teórico) e negativas e em certas regiões do oceano estas faixas alternam regularmente. Representando a preto as anomalias positivas e a branco as negativas, o mapa torna-se uma verdadeira pele de zebra, que junto das zonas de fracturas se rasga e desalinha.
Os magnetólogos marinhos descobrem então um novo facto: quando nos aproximamos de uma dorsal oceânica — do Pacífico Leste ou médio-atlântica—, observamos que as faixas pretas e brancas se encontram distribuídas paralelamente ao eixo da dorsal. Um análise mais minuciosa mostra que não existe apenas um paralelismo, mas também uma simetria relativamente ao eixo da dorsal. Se a dorsal corresponde a uma faixa preta, as duas faixas adjacentes são brancas, as que vêm a seguir, pretas, etc.
Como interpretar estes estranhos grafismos?
O canadiano Morley, por um lado, e os ingleses Vine e Matthews, por outro, tiveram então a ideia de associar três resultados que, à primeira vista, pareciam estar muito afastados uns dos outros:
- A interpretação de Matuyama referente às anomalias magnéticas das lavas vulcânicas;
- A escala das inversões do campo magnético terrestre estabelecida por Cox e seus colegas;
- A hipótese da expansão dos fundos oceânicos de Hess.
O campo magnético terrestre medido num ponto resulta da adição do campo global, criado pelo dípolo interno, aos campos magnéticos locais cuja fonte se localiza próximo da superfície. É, portanto, natural admitir que o campo magnético medido no mar resulte da sobreposição do campo global ao criado localmente pelo fundo oceânico, constituído por basaltos, que, têm a propriedade de fossilizar o campo magnético existente na altura do seu arrefecimento.
Segundo Hess, a propriedade fundamental das dorsais é fabricar continuamente basaltos, que derivam de imediato sobre o tapete rolante de cada lado da dorsal. O tapete rolante é, assim, coberto de basaltos, cuja idade vai aumentando à medida que nos distanciamos da dorsal. Tendo em conta o fenómeno de magnetização dos basaltos e da existência das inversões, é possível prever que, ao partirmos da dorsal, afastando-nos no tapete rolante, encontremos, em primeiro lugar, basaltos com magnetização normal — os originados durante a época de Bruhnes—, depois, mais longe, basaltos que apresentem magnetização inversa — os criados durante a época de Matuyama—, mais longe ainda, basaltos com magnetização de novo normal, e assim sucessivamente.
De acordo com o princípio de adição dos campos magnéticos, os pequenos campos criados por estas magnetizações dos basaltos acrescentar-se-ão ao campo magnético global actual. Deste modo, se medirmos hoje o campo magnético junto de uma dorsal, este será reforçado pelo campo fóssil dos basaltos; se, pelo contrário, nos afastarmos o suficiente da dorsal para nos situarmos na zona dos tapetes rolantes que se constituíram na época de Matuyama, o campo dos basaltos, negativo, substrair-se-á ao campo total e o campo resultante será um pouco mais fraco do que este.
Como o método das anomalias magnéticas consiste, precisamente, em subtrair o campo teórico global ao campo medido, essa subtracção faz surgir uma anomalia magnética positiva, no primeiro caso, no mapa a preto, e negativa, no segundo, a branco.
Segundo Morley, Vine e Matthews, a pele de zebra é a «projecção» horizontal no tapete rolante da escala das inversões do campo magnético terrestre. A criação contínua de basalto nas dorsais e a sua deriva simétrica no tapete rolante permitem registar de maneira contínua estas flutuações do campo magnético. O fundo oceânico é uma memória da história do campo magnético terrestre.
A interpretação de Vine, Matthews e Morley contribui para o fortalecimento da teoria da expansão dos fundos oceânicos de Hess e de Dietz.
Fonte : A Espuma da Terra – Claude Allègre. Gradiva.
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