Natal é um dia para parar. Desligar a net e ouvir o que os mais velhos têm para dizer e sentir a chama dos pequenos que esperam a chegada do Pai Natal. Como é bom acreditar ainda no Pai Natal ou nos presentes do Menino Jesus. Fica aqui um poema. Não foi uma escolha inocente, gosto de ler David Mourão-Ferreira.
É o braço do abeto a bater na vidraça?
E o ponteiro pequeno a caminho da meta!
Cala-te, vento velho! É o Natal que passa,
A trazer-me da água a infância ressurrecta.
Da casa onde nasci via-se perto o rio.
Tão novos os meus Pais, tão novos no passado!
E o Menino nascia a bordo de um navio
Que ficava, no cais, à noite iluminado…
Ó noite de Natal, que travo a maresia!
Depois fui não sei quem que se perdeu na terra.
E quanto mais na terra a terra me envolvia
E quanto mais na terra fazia o norte de quem erra.
Vem tu, Poesia, vem, agora conduzir-me
À beira desse cais onde Jesus nascia…
Serei dos que afinal, errando em terra firme,
Precisam de Jesus, de Mar, ou de Poesia?
David Mourão-Ferreira, Obra Poética 1948-1988
Lisboa, Editorial Presença, 1988
Obrigado pelos votos, não conhecia o poema mas confesso que gostei.