Erupções subglaciárias
As erupções subglaciárias assemelham-se às suas correspondentes submarinas das grandes profundidades: é o que revela a geologia e a morfologia das formações islandesas.
Originados no seio das águas de fusão que o calor da erupção fez surgir sob o glaciar, os hialoclastitos permanecem isolados nestas águas, prisioneiros da sua carapaça de gelo, e portanto não podem efectuar percursos que não sejam mais ou menos verticais para se acumularem em torno dos lábios das fendas que os expulsaram. Quando o orifício da chaminé de alimentação é mais ou menos pontual, circular ou oval, forma-se um monte troncocónico semelhante aos guyots, cuja cratera fica cheia logo que a erupção termina.
São os célebres table-mountains, característicos das vastas paisagens da Islândia. Se a origem é uma fissura, como é regra nos rifts — e a Islândia encontra-se na zona axial da dorsal médio-atlântica— a erupção cria uma espécie de formidável muralha de tufos, de várias centenas de metros de altura e de comprimento atingindo por vezes dezenas de quilómetros. Chama-se-lhes «cristas denteadas» (serrate ridges). São edificadas ao longo da fissura eruptiva, sustentadas de um lado e do outro pelo suporte de gelo que, apesar do calor libertado pelas lavas, não se encontra senão a algumas dezenas de metros de um lado e de outro da fissura, tão grande é a quantidade de calorias necessária para a fundir.
Se não se encontram cristas semelhantes sob os oceanos é porque a ausência de uma tal bainha lateral permitiu aos produtos ejectados espalharem-se em lugar de se empilharem em impressionantes declives. Estas erupções fissurais — que ao contrário das erupções ditas centrais nunca se verificam de novo através de uma mesma fractura – dão apenas origem a relevos pouco marcados, que mal se distinguem nos perfis de ecossondagens.
Fonte : Le Volcanisme et sa prévention. Haroun Tazieff et Max Derruau. Masson
A calma e pacata vida na Islândia
Miguel,
Aproveitei alguns conhecimentos (e uma das fotos) deste teu texto para escrever o seguinte no meu blogue:
Invariavelmente, as notícias repetem-se sobre o impacto de um vulcão nos confins da terra de Björk, ou seja, a Islândia. Vulcão esse com um nome inqualificável: Eyjafjallajokull. A língua islandesa tem destas coisas! Este país insular, rodeado por todos os lados pelo Oceano Atlântico Norte, além de ser a terra natal dessa brilhante artista musical, tem enchido páginas, mais ou menos virtuais, nos últimos tempos.
Primeiro, foi o colapso financeiro originado pela elevada exposição a activos financeiros tóxicos. Em finais de 2008, os três maiores bancos islandeses colapsaram e, consequentemente, o Estado teve de injectar capital. Só que essa intervenção não foi suficiente pois a dimensão contabilística das perdas financeiras ultrapassava a dimensão económica do país! Por sua vez, a economia islandesa estava fortemente dependente de financiamentos obtidos em Londres e Amesterdão, que não se conformaram com a situação de “bancarrota”. Deste problema, antigos governantes islandeses, com o ex-primeiro-ministro (Geir Haarde) à cabeça, estão a braços com a justiça que os investiga sobre o pretexto de terem actuado de forma negligente. E, se calhar, até foram!
Agora, com as erupções subglaciárias na segunda maior ilha europeia, é o colapso da aviação no velho continente, com perdas de muitos milhões de euros diários no balanço contabilístico de muitas empresas. São milhares de voos cancelados. E são muitos mais milhares de passageiros em terra: numa espera que desespera!
À toxicidade financeira seguiu-se a “toxicidade” vulcânica. Como se de um ciclo se tratasse. E esperemos que outros vulcões adormecidos naquelas paragens continuem adormecidos…
Interessante post, embora eu não tenha estudado muito estes vulcões (não acontecem por cá nos Açores) é sempre bom haver divulgação destes conhecimentos científicos.
Apenas faltou falar dos jökullaups, o equivalente dos lahares neste meios de glaciares.