Cratões: Partes relativamente estáveis da litosfera continental e que não foram envolvidas nas orogenias do Fanerozoico (Paleozoico, Mesozoico e Cenozoico).
À luz do conhecimento atual, os cratões são entendidos como partes diferenciadas da litosfera continental, caracterizadas por possuírem espessas e antigas raízes mantélicas, Figura 1.
Figura 1 – Principais afloramentos da crosta continental de idade Arcaica (2500 – 4000 Ma). Os minerais mais antigos que se conhecem na Terra são zircões detríticos com idades de 4300-4400 Ma. Ocorrem em rochas com “apenas” 4400 Ma, em Jack Hills, na Austrália ocidental. O zircão é um mineral que se forma tipicamente em rochas ácidas (graníticas), portanto já evoluídas. Por outro lado, as proporções dos isótopos de oxigénio que existem nestes cristais sugerem que eles se tenham com intervenção de água líquida, o que por sua vez levanta a possibilidade de existência de oceanos.
O desenvolvimento do conceito de “cratão” constitui uma das mais interessantes páginas da aventura da Terra. São as mensagens mais antigas registadas em rochas terrestres.
A constatação de que nos continentes existiam regiões caracterizadas por longa estabilidade tectónica partiu de simples observações de campo e ao longo de décadas de estudo são hoje interpretadas com um sólido suporte de dados provenientes de vários ramos das geociências, Figura 2.
Figura 2 – Localização das rochas de idade Precâmbrica. As rochas mais antigas são os gnaisses de Acasta (Norte do Canadá) com 3960 Ma, cuja composição granítica e tonalítica evidencia já derivação a partir de materiais marcadamente evoluídos, possivelente de uma crosta primitiva de composição basáltica. Estas relíquias de litosfera continental não afectada por orogenias Fanerozoicas formaram-se no Eon Arcaico. O período de tempo anterior ao início do Arcaico, chama-se Hadeano, do nome do deus grego dos infernos, Hades. Este nome resulta da grande instabilidade e catastrofismo que deverá ter dominado esta fase incipiente da vida do planeta e que provavelmente continou durante o Arcaico e talves o Proterozoico.
O que faz de um cratão um cratão é a sua constituição.
São pedaços da litosfera continental, Foto 1, diferenciados desde o Arcaico (com uma idade de 2500 a 4000 Ma). De forma subtil os cratões têm registado os acontecimentos importantes que os continentes seus hospedeiros têm sofrido ao logo dos diferentes Ciclos de Wilson.
Foto 1 – Contacto de granito com um diorito (porção mais escura). Nas zonas mais profundas da litosfera continental ocorre a formação de rochas graníticas associadas a rochas de composição mais básica como os dioritos. A abundância de rochas de composição granítica, desde o início do Arcaico conhecido, sugere que a diferenciação do material siálico foi muito precoce. A enorme escassez de rochas terrígenas, contudo, sugere que a crosta de tipo continental começou por ser fina e imersa, e lateralmente muito extensa, possivelmente cobrindo todo o globo. O arrefecimento progressivo terá permitido subducção de materiais siálicos até profundidades cada vez maiores e, como consequência, é possível que a crosta continental tenha vindo a diminuir de volume, do Arcaico até aos nossos dias.
A antiguidade dos cratões e geodiversidade tornam estes “pedaços”, documentos importantes onde está registada a memória do nosso planeta. O conjunto dos “cratões” terrestres podem ser entendidos como uma “caixa negra” da nave Terra.
Assim se formou a crosta continental (ver post aqui)
Fontes:
Click to access geologia-do-continente.pdf
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