Os modelos do ciclo de Wilson, utilizados nos primórdios da Tectónica de Placas continham um modelo de movimento com vetores ortogonais. Os vetores caracterizam-se por uma direção, um sentido e um comprimento. Durante muitas décadas o movimento das placas foi considerado ortogonal, “orthos” do grego significa reto (90◦) e “gonia” que significa ângulo.
Hoje sabemos que a geometria dos movimentos de placas com colisões ortogonais e de extensões simétricas, entre a América e a África e a Europa, tal como é representada nos manuais escolares, figura 1, é bastante simplista.
Figura 1 – Representação dos movimentos das placas com os respetivos vetores (representados a vermelho), ortogonais relativamente à direção geral dos limites divergentes.
Com efeito, as modernas reconstruções paleogeográficas revelam importantes complexidades, tais como o movimento rotacional das placas associado a diversos tipos de limites, em que se destacam os transformantes, obrigatórios num globo tridimensional. Também as alterações que as placas litosféricas sofrem vão variando ao longo do tempo, como a velocidade do seu crescimento, surgindo novas fronteiras ao longo do tempo geológico, como as dorsais oceânicas e as zonas de subducção.
O que é um “terreno”?
A evidência de que a movimentação das placas e, por conseguinte, dos continentes, se faz de modo essencialmente oblíquo, veio alicerçar o conceito de terreno. O termo terreno é, em geral, aplicado a uma área que possui geologia distinta, apresentando formações estratigráficas, rochas intrusivas, depósitos minerais e história tectónica que lhe confere características especiais e diferentes das dos terrenos adjacentes.
Evidências de terrenos, com características diferentes, nomeadamente paleoclimáticas e limitados por falhas, suportaram a ideia de que os mesmos terão derivado a partir de outras latitudes ou de locais mais próximos, onde registaram dados de uma diferente história geológica.
Três etapas podem ser descritas na história de um terreno: amálgama, acreção e dispersão.
- a amálgama tectónica resulta geralmente, da aproximação de um continente a outro através de uma zona de falha, usualmente com movimentação oblíqua;
- a acreção acontece quando um terreno adere à margem de um continente.
- a dispersão dá-se normalmente, também por movimentação oblíqua, através da qual, os terrenos acrecionados sofrem fracturação predominantemente por desligamentos.
O exemplo mais próximo de uma amálgama de diferentes terrenos é o Maciço Ibérico, que terá resultado de diversas acreções durante as orogenias cadomiana e varisca, figura 2.
Figura 2 – Unidades estruturais de 1ª ordem (terrenos) e de 2ª ordem (zonas) nos Variscidas Ibéricos.
Esta componente oblíqua é importante para se perceber que os continentes são amálgamas de continentes mais pequenos e restos de crosta oceânica, provenientes de outras latitudes, Figura 3.
Figura 3 – Reconstituição paleogeográfica (300 Ma) dos terrenos afectados pela orogenia Varisca. A componente oblíqua é importante para se perceber que os continentes são amálgamas de continentes mais pequenos e restos de crosta oceânica, provenientes de outras latitudes. Na Península Ibérica, a orogénese varisca teve início no Devónico médio e prolonga-se até ao Carbónico superior – Pérmico. Apresenta um carácter polifásico, mas o essencial da estrutura resulta de três episódios de deformação que puderam ser datados, quer pela presença de discordâncias nas zonas externas ou superficiais, seja pelas datações radiométricas de certos granitos em que se conhece bem as relações geométricas com as estruturas.
Tal como os seres vivos as placas litosféricas passam por um conjunto de processos que os vão modificando ao longo do tempo, que neste caso abrange muitos milhões anos.
Para o Terreno Finisterra que incluiu rochas metamórficas do Paleozóico inferior e/ou Precâmbrico foram definidas seis unidades tectonoestratigráficas: a Unidade de Lourosa, a Unidade de Pindelo, a Unidade de Espinho, a Unidade Arada, a Unidade de Albergaria-a-Velha/de Sernada do Vouga e a Unidade de São João-de-Ver, Foto 1.
Pode ser consultado o álbum das unidades tectonoestratigráficas neste link.
Foto 1 – Unidade de Lourosa – As rochas metamórficas que a constituem são granitos gnaissificados, migmatitos, micaxistos por vezes granatíferos e anfibolitos. Dada a diferenciação estrutural e litológica patente pelas rochas desta unidade, diferenciou a
em duas subunidades, separadas, grosso modo, por um antiforma, de direcção geral NW-SE, marcado pelo afloramento de rochas graníticas em Santa Maria da Feira.
Fontes consultadas e origem das imagens:
Silva, J. B. (1989). Estrutura de uma Geotransversal da Faixa Piritosa: zona do Vale do Guadiana. Estudo da Tectónica pelicular em regime de deformação não coaxial. Tese de doutoramento. Universidade de Lisboa.
Silva, J.; Pereira, M. & Chichorro, M. (2013). Estrutura das áreas internas da Zona Sul Portuguesa, no contexto do Orógeno Varisco. In R. Dias, A. Araújo, P. Terrinha e J. Kullberg (Eds.) Geologia de Portugal. Lisboa: Livraria Escolar Editora.
http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1029/2006TC002058/pdf
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