Uma viagem ao Magmatismo e ao Barroco de Braga. Entre os recursos geológicos e o património cultural.
O concelho de Braga localiza-se em pleno Minho, no noroeste de Portugal.
As rochas estiveram desde sempre ligadas ao património cultural, como blocos de alvenaria ou elementos decorativos diversos, integrados em edificações ou isolados. Neste post alguns dos aspetos da relação entre os estudos geológicos e o património cultural estão ilustrados.
As rochas utilizadas no património traduzem relações entre esses recursos geológicos e tendências culturais, acompanhando evoluções históricas. Nas obras mais antigas dominam os recursos locais, dada a grande importância dos processos de transporte. Consequentemente, certos objetos podem representar situações de elevado interesse histórico pelo contraste geológico com o enquadramento local, funcionando, tal como as moedas e as cerâmicas, como indicadores de movimentos de importação. Existe uma pasta que pode ser consultada para estes recursos geológicos globais (pode ser consultada a pasta geral aqui). Procuro aqui apenas dar relevo ao chamado “granito de Braga”, apesar de não serem todos os monumentos construidos com o granito escuro de Braga. Aliás na cidade de Braga é possível reconhecer a presença de outros granitos (diferentes do chamado “granito de Braga”), merecendo destaque a presença de certos granitos muito claros, Foto 1, (contrastando com o tal granito de Braga, mais escuro, acinzentado ou amarelado.
Foto 1 – Visão geral da fachada principal da Igreja do Carmo construída com um material granítico muito claro. Estes granitos mais claros são semelhantes a rochas que ocorrem fora da zona da cidade de Braga.
Contexto Geológico
As rochas granitóides são as que têm maior representação no concelho de Braga e estão associadas à orogenia varisca, nomeadamente a uma das últimas fases de deformação dúctil-3 (D3) distribuindo-se em faixas grosseiramente paralelas à zona de cisalhamento Vigo-Régua.
Apresentam fácies variadas, Figura 1, e associam-se, por vezes, a rochas de composição intermédia a básica. Podemos, então, distinguir granitos de duas micas, leucogranitos, granitos biotíticos e granodioritos, sendo dominantes os granitos essencialmente biotíticos porfiróides. Viajar no Barroco de Braga é uma viagem ao magmatismo da Orogenia Varisca nas últimas fases do chamado Ciclo de Wilson.
Figura 1 – Carta geológica simplificada de Braga. Os granitóides variscos na Zona Centro Ibérica podem ser classificados em dois grandes grupos: granitóides sin-tectónicos e granitóides tardi-pós-tectónicos. Na zona de Braga os granitos tardi-pós-tectónicos estão representados por tardi (Complexo Granítico de Celeirós – que engloba os Granitos de Celeirós e Vieira do Minho e os Granodioritos de Figueiredo; Complexo Granítico da Póvoa de Lanhoso – constituído pelos Granitos de Agrela e de Pousadela; o Complexo Granítico de Braga – de que fazem parte o Granito de Gonça, o Granito de Braga e rochas de composição gabro-grano-diorítica, considerando-se de 310-305 Ma a idade da sua instalação) e pós-tectónicos com aproximadamente 300 Ma (Granito de Briteiros).
Os granitos tardi-pós-tectónicos (Granito de Braga) são caracterizados por intrusões de dimensões batolíticas de granito porfiróide de grão médio a grosseiro biotítico ou por pequenos corpos básicos e intermédios. Ocorrem encraves microgranulares máficos, Foto1, com zonas de mistura de magmas. Ausência de deformação e foliação de fluxo magmático concordante com contactos são outra das características destes granitóides.
Foto 1 – Granito biotítico, com rara moscovite, porfiróide ou de tendência porfiróide e de grão médio a fino. Os minerais essenciais são o quartzo, a biotite e o feldspato, apresentando-se este último sob a forma de megacristais. A cor cinzenta azulada é devida ao elevado teor em biotite, que se estima visualmente entre 15 e 20 %. Para além de quartzo, feldspato e biotite podem ser encontrados outros minerais, como zircão, ilmenite, moscovite, epídoto, torite e uraninite. O granito de Braga apresenta encraves microgranulares máficos, com dimensão variável entre 2 a 30 cm e forma circular, elíptica ou ovalada.
Os encraves microgranulares máficos, Foto 1, revelam composição minerológica diferente da dos granitos hospedeiros, mas em que a biotite é o único máfico presente. Estes dados apoiam a hipótese de que os encraves resultaram de um magma com composição distinta (mais máfica) do magma que originou os granitos hospedeiros. Assim, a hipótese mais provável é a de que os granitos de Braga terão uma origem ígnea que resultou da cristalização de dois magmas associados, o magma granítico e outro máfico, Figura 2. Os encraves microgranulares representarão “gotas” de magma máfico transportadas pelos líquidos graníticos aquando da sua ascenção para níveis superiores da crosta.
Foto 2 e Figura 2 – Presença de xenólitos migmatíticos e possível interpretação do processo de hibridização de magmas. A migmatização dos níveis crustais profundos terá ocorrido durante o adelgaçamento crustal durante a Fase extencional D2 (335Ma). A ascensão dos granitóides (granito de Braga) terá ocorrido durante o estádio final do regie transcorrente atingindo o seu nível de instalação após D3.
Um passeio pelos monumentos da cidade de Braga permitem através da observação do património compreender as relações entre os recursos geológicos e tendências culturais, acompanhando evoluções históricas.
Para consultar o álbum clique aqui.
Fontes consultadas:
https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1342937X05707334
https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/002449379490040X
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