Os migmatitos são rochas ultra-metamórficas, geralmente silicatadas, geradas por anatexia crustal, encontrando-se, de modo frequente, espacialmente associadas a corpos graníticos.
O processo de anatexia em rochas metassedimentares gera quantidades de líquidos que permite diferenciar metatexitos (gerados num estágio inicial por fissão da moscovite), Foto 1, de diatexitos (representativos da intensa anatexia com fusão da biotite) Foto 2.
Foto 1 – Nos metatexitos, as estruturas pré-existentes, como a foliação ou xistosidade, encontram-se parcialmente preservadas na rocha, dando origem a um bandado, com a alternância de leucossomas e melanossomas, resultando num aspecto marcadamente heterogéneo. A fração fundida é sempre pequena. Fotografia dos migmatitos do Mundão (Viseu).
Foto 2 – Os diatexitos são rochas migmatíticas que foram sujeitas a um processo de fusão maior que os metatexitos, pelo que as estruturas da rocha original (protólito) foram “apagadas” tendo sido substituidas por outras que manifestam abundante fluidez, devido à maior quantidade de fundido. Nestas rochas há um predomínio de leucossomas podendo apresentar nos estádios mais avançados uma textura mais homogénea e similar um granito. Fotografia de migmatitos do Mundão (Viseu).
Estas rochas são heterogéneas à escala meso- e megascópica e caracterizam-se por serem constituídas por zonas ricas e minerais máficos (melanossoma) e zonas mais ricas em minerais félsicos (leucossomas). Os melanossomas exibem características típicas de rochas metamórficas e correspondem à parte dos migmatitos que representa a rocha parental que resistiu ao processo de fusão (paleossoma).
Complexo Migmatítico do Pedregal
O Complexo migmatítico do Pedregal, localiza-se na margem direita do rio Douro, na envolvente da localidade do Pedregal, que pertence à freguesia de Jovim, concelho de Gondomar, e distrito do Porto.
Na Zona Centro-Ibérica (ZCI) são conhecidas ocorrências de migmatitos em contacto com rochas de baixo grau metamórfico. São exemplo o complexo migmatítico do Pedregal que se encontra inserido na Faixa Metamórfica Porto-Viseu (FMPV), limitada a NNE pela Zona de Cisalhamento Douro-Beira (ZCBD) e a SSW pela Zona de Cisalhamento Porto-Tomar (ZCPT) – o enquadramento geológico do Complexo Migmatítico do Pedregal pode ser consultado neste post.
Na Zona Centro-Ibérica (ZCI) são conhecidas ocorrências de migmatitos em contacto com rochas de baixo grau metamórfico. São exemplo o complexo migmatítico do Pedregal que se encontra inserido na Faixa Metamórfica Porto-Viseu (FMPV), limitada a NNE pela Zona de Cisalhamento Douro-Beira (ZCBD) e a SSW pela Zona de Cisalhamento Porto-Tomar (ZCPT).
O complexo migmatítico do Pedregal, é composto por um corpo diatexítico (Granito do Pedregal), com cerca de 3 Km2, alongado na direção NW-SE, e por rochas gnaisso-migmatíticas de carácter metatexítico. Encontra-se espacialmente associado a outros granitos de duas micas sin-orogénicos (granitos de Gondomar, Fânzeres e Ermesinde) e está rodeado por micaxistos estaurolíticos do Supergrupo Dúrico-Beirão (SGDB), evidenciando foliação principal com direção NW-SE a NNW-SSE, Foto 3.
Foto 3 – O corpo granítico tem cerca de 3 km2, e encontra-se alongado na direção NW-SE. Este granito foi designado por Granito do Pedregal e trata-se de um granitoide de duas micas, geralmente de grão fino a médio, isogranular do ponto de vista textural, sem orientação preferencial. Localmente, o granito apresenta nódulos biotíticos em geral (1 a 2 cm) com uma foliação e encraves de rochas metassedimentares. O corpo granítico intuiu micaxistos estaurolíticos pertencentes ao Complexo Xisto Grauváquico (CXG), que apresentam uma foliação principal de direção NW-SE. O contacto entre o micaxisto e o granitoide é intrusivo, irregular e brusco, sendo localmente marcado por brecha ígnea. A cortar o granitoide e a rocha metassedimentar encaixante ocorrem lentículas e veios pegmatíticos concordantes com a foliação desta última.
Diatexito – Granito do Pedregal
O granito do Pedregal, macroscopicamente, é um granitoide de duas micas, geralmente de grão fino a médio, heterogranular do ponto de vista textural, sem orientação preferencial. Localmente, o granito apresenta nódulos biotíticos (1 a 2 cm) com uma foliação interna de orientação variando entre NE-SW e E-W, e encraves de rochas metassedimentares, por vezes, com orientação preferencial . Este granito é peculiar do ponto de vista petrográfico e geoquímico. Quanto à geoquímica, o granito do Pedregal é classificado como um granito peraluminoso proveniente de uma mistura de fontes psamítica e pelítica, e de melts graníticos quentes com temperaturas superiores a 875ºC sugere uma eventual diferenciação das duas litologias a partir da mesma fonte, Diaporama 1.
Diaporama 1 – Afloramento do Granito do Pedregal junto ao Rio Douro (Gondomar- Portugal). Petrograficamente, o granito possui uma textura heterogranular que varia de grão fino a médio. Os resultados geocronológicos apontam uma idade varisca para o granito do Pedregal (311±5 Ma) concordante com as idades do magmatismo sin- a tardivarisco da ZCI.
Tendo em conta o carácter intrusivo do corpo granítico, das características estruturais, texturais, mineralógicas e geoquímicas o Granito do Pedregal poderá ser um diatexito primário resultante de um fundido rico em restitos e depletado nos elementos associados ao leucossoma resultante da primeira fusão (Metatexito – Gnaisse).
Metatexito – Gnaisse
Corresponde a uma rocha com um bandado composicional gnaissico, de cor acinzentada e leucocrata. Esta apresenta uma textura fanerítica, e é possível distinguir cristais de quartzo, feldspato, biotite e moscovite. A moscovite e a biotite definem alinhamentos micáceos. Também é observável aglomerados de granada e quartzo, Diaporama 2.
Diaporama 2 – Afloramento de metatexitos (Gnaisse) nas margens do Rio Douro (Gondomar). O modelo genético proposto suportado pelas relações de campo, petrografia e geoquímica de rocha total considera uma provável relação genética resultante de processos de fusão sequencial entre estas litologias (Granito do Pedregal e Gnaisse).
As rochas gnaisso-migmatíticas podem corresponder a níveis de leucossoma, de uma primeira fase de fusão, injetados nas rochas metassedimentares encaixantes. O granito do Pedregal corresponde a uma segunda fase de fusão parcial, a mais alta temperatura, do resíduo.
Possível interpretação
Tendo em conta as características cartográficas, petrográficas e geoquímicas do granito do Pedregal e o seu enquadramento geológico com associação a rochas gnaisso-migmatíticas (por injeção de leucossoma) e a rochas metamórficas na zona da estaurolite e na zona da silimanite, o granito do Pedregal é considerado um granito anatético, resultante da fusão parcial de um resíduo empobrecido pela extração do leucossoma gerado num primeiro episódio de fusão. O carácter intrusivo do granito e a presença de xenólitos metassedimentares indicam que houve alguma migração vertical do fundido. O modelo genético proposto suportado pelas relações de campo, petrografia e geoquímica de rocha total considera uma provável relação genética resultante de processos de fusão sequencial entre estas litologias (Granito do Pedregal e Gnaisse).
A deformação não coaxial mais intensa nas zonas de alto grau metamórfico nos orógenos, associada a migmatitos e granitos sin-tectónicos, com diminuição lateral progressiva de ambos, só pode ser explicado por um mecanismo de fluxo dúctil crustal durante a D3. A anatexia mesocrustal iniciou-se ante-D3, aumentando a ductilidade crustal. A deformação posterior (D3) permitiu o fluxo do material fundido, bem assim como das rochas sólidas, muito dúcteis, adjacentes. Nos metassedimentos acima da zona anatética, antes da sua ascensão por fluxo dúctil solidário com os melts e os magmas, num período ante-D3, as condições barométricas permitiram a blastese de estaurolite. Este conjunto de encaixante, metatexito e diatexito terá desta forma sido exumado durante a fase de deformação D3.
Fontes Consultadas:
- Ferreira, J.A., 2013. Caracterização do granito do Pedregal. Condicionantes da sua aplicação. Tese Mestrado, Faculdade de Ciências da Universidade do Porto.
- Ribeiro, M.A., Dória, A., Sant’Ovaia, H., 2008. Relações entre deformação, magmatismo e metamorfismo na região oriental do maciço do Porto. In. H. Santa´Ovaia, A., Dória, M.A., Ribeiro, (Eds). Memórias nº 13, Universidade do Porto, Faculdade de Ciências.
- Ferreira, J., Martins, H. C. B., Ribeiro, M. A., 2014b. Geocronologia (U-Pb) e Geoquímica do granito do Pedregal. Comunicações Geológicas
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