Nós, humanos, somos como um recém-nascido deixado na soleira da porta, sem um bilhete a explicar quem é, de onde veio, que carga hereditária de qualidades e defeitos traz consigo ou que seriam os seus antepassados. Estamos ansiosos por ver a ficha do órfão.
Carl Sagan
Para explicar cientificamente quaisquer fenómenos, não basta observar e experimentar. É necessário descobrir os processos que o motivam. A análise da relação entre o ambiente e os organismos constitui parte preponderante das teorias evolutivas.
As teorias sobre evolução biológica começaram a tomar corpo como doutrinas científicas a partir do momento em que se inicia o estudo da morfologia dos seres vivos, tentativa para a sua classificação e o estudo de evolução geológica da Terra. Ao longo dos últimos dois séculos novos dados foram acrescentados aos argumentos inicialmente utilizados a favor do Evolucionismo.
Que mecanismos determinaram essa Evolução?
Se recuarmos aos princípios do século XIX, época em que o evolucionismo deu os seus primeiros passos, pode colocar-se a seguinte questão: de que elementos dispunham os naturalistas para elaborarem as teorias da evolução?
As leis de Mendel (sobre a transmissão dos caracteres hereditários) ainda não eram conhecidas. Um facto preponderante das teorias evolucionistas foi a influência do ambiente sobre os seres vivos.
Museu de História Natural de Londres. Segundo Lamarck, existe uma força que tende a aperfeiçoar progressivamente os seres vivos, transformando as espécies mais simples em espécies cada vez mais complexas, numa cadeia basicamente linear, semelhante à Scala Naturae. Uma das implicações dessa ideia era que não há extinção porque os seres vivos não se extinguem, transformam-se. A Origem das Espécies de Darwin tornou-se célebre como nenhum outro livro científico. Neste livro Darwin tentou demonstrar que ocorrera evolução devido a um processo de descendência com ramificações sucessivas (“Árvore da Vida”), e a demonstração que a seleção natural era o mecanismo evolutivo.
Lamarckismo
Jean Baptiste de Lamarck (1744-1829), um dos pioneiros das ideias sobre a evolução, propôs na sua obra Philosophie Zoologique, em 1801, uma teoria para explicar a evolução, baseada nos seguintes princípios:
- lei do uso e desuso;
- lei da herança dos caracteres adquiridos;
Segundo o Lamarquismo, a evolução das espécies seria explicada do seguinte modo: perante um novo ambiente, a espécie sente uma “necessidade” de se adaptar, tendo que adquirir (desenvolver) ou atrofiar determinada característica – lei do uso e desuso. Esta característica adquirida pelo uso/perdida pelo desuso é transmitida à descendência ao longo das gerações – lei da herança dos caracteres adquiridos.
Darwinismo
Charles Darwin (1809-1882) propôs na sua obra “A Origem das Espécies”, em 1859, uma teoria para explicar a evolução, conhecida por teoria da seleção natural, baseada em muitos dados recolhidos ao longo da sua vida:
- Viagem de circum-navegação (no Beagle) em que observou, nas diferentes ilhas do arquipélago das Galápagos, uma grande diversidade de formas (diferentes formas de bicos de tentilhões, diferentes tamanhos do pescoço das tartarugas);
- Leitura do livro Ensaio sobre a População do economista inglês Thomas Malthus, defensor da teoria segundo a qual as populações crescem em progressão geométrica, ao passo que o alimento cresce em progressão aritmética.
Segundo o Darwinismo, numa população há variações. Perante a alteração do ambiente, a população pode ficar sujeita a nichos ecológicos semelhantes ou diferentes. As populações portadoras de variações favoráveis são naturalmente selecionadas (seleção natural), por estarem melhor adaptadas, e assim preservadas (sobrevivem). As portadoras de variações desfavoráveis são também selecionadas, mas negativamente, sendo eliminadas por estarem em desvantagem competitiva . Pela reprodução (reprodução diferencial), estas variações favoráveis são transmitidas à descendência ao longo de gerações, passando a existir em maior número na nova população modificada por seleção natural.
Quando Darwin morreu, a “Revolução Darwiniana” apenas mudara as ideias relativamente à evolução por descendência comum. A seleção natural, a contribuição mais revolucionária de Darwin, tinha pouca aceitação, em parte devido a problemas não resolvidos como o da hereditariedade, mas sobretudo devido ao carácter automático, imediatista e contingente da seleção. Assim, muitos cientistas preferiram invocar tendências intrínsecas que levariam os seres vivos em direções determinadas, relegando a seleção natural para um papel eliminador.
As descobertas científicas do século XX permitiram ampliar e consolidar o conceito de evolução proposto por Darwin.
Continua…
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